segunda-feira, 11 de maio de 2009

COISAS DA PARTE DA TARDE

"Corpo de Poema" 1985


AS TARDES


Nunca as tomei a sério:

lambusado de poemas, apertava com força

e descuido o sexo das borboletas moribundas


e subia pelas cordas estendidas

na sombra às cerejeiras que suplicavam

o contacto das minhas pernas nuas

entrelaçadas na frescura seca

dos seus ramos meigos


descia

ainda

abraçado

ao tronco

farto meio sujo

com os lábios tingidos de vermelho

e dois cachos de poemas

pendurados nas orelhas.

("Corpo de Poema" - 1985)

1 comentário:

  1. Coisas da parte da tarde
    Há tardes em que apetece ler ou escrever
    Há outras em que as conversas são como as cerejas!
    Numa tarde destas dizia-me a minha mãe:
    -... já não há cerejas aos pares que dêem para fazer de brincos!
    Brincava, com certeza :)
    Mas eram outros tempos, esses.

    Belo ,este poema!

    Um Beijo, MJ

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