sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

NADA DE NADA


Não vou dizer-te nada que não saibas

ou que não queiras.

Não tenho atrevimento para te inquietar

e construir contigo uma realidade que não vês.

Não vou dizer-te absolutamente nada,

por ser escusado e não faltar quem te minta.


 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

À CHUVA


Às vezes chove e eu vejo essa água molhar-te,

impiedosa. Na cidade é assim: a chuva molha

cruelmente as pessoas, desfigura-as

até se confundirem com a desumana chuva.

 

Aqui, na horta que frutifica na minha memória,

é uma bênção. Podia chover o ano inteiro,

que seria sempre bem-vinda a água. E mais não digo,

enquanto não estiver completamente enxuto.  


 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

CACOFONIAS


Ela lá e ele, do lado de cá,

disse olá.

Fez eco lá; ouviu ela acolá.

É boa, olá lá.

 

O constant’ hino

tocado sem destino

troca o tino

do cretino, a’rmar ao fino:

 

(“lavamos catandirrindo

levados, levados, sim…”)

 

Dirão na morte a perda,

oh morte inesperada!

De mim ninguém m’herda

Nada!