sexta-feira, 29 de abril de 2011

GIESTA EM FLOR



Cantei a giesta da serra,
que me ensinou a viver;
cantei a gesta da terra,
que me deu o mundo a ver.


Para mim, o verde dava
para me sentir no berço;
com amarelo ultrapassava
além do leito, o universo.


Só por ver-te fui poeta
e fui-o com todas as letras…
Agora não, agora é peta:
bastam truques, tiques, tretas…

quarta-feira, 27 de abril de 2011

BRINCOS



(Na primeira pessoa, brinco
e vou afinando a aselha
que, vistosa, no sujeito finco,
em prévio buraco na orelha…)


É aparente o erro gramatical,
pois a flor, só por si é bem capaz
de me lembrar o bem e o mal
das minhas brincadeiras de rapaz.


Então, corsários e cavalheiros,
no tempo semiótico das reguadas,
salteávamos os expostos canteiros
para os dar depois às namoradas.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O CRAVO E A TREMOCILHA


Querem ver que a tremocilha
deu à luz fora de tempo?
Ou é a borrasca empecilha
que deste Abril fez Setembro?


Houve quem fizesse o mesmo,
trocando o novo por velho
e do cravo fez torresmo
cinzento, quando é vermelho.


Ganhou o cravo, ganhou Abril,
ainda assim, por pouco tempo:
logo apareceu novo ardil,
que deste Abril fez Novembro.


A tremocilha é a prova,
ganha terreno e não mente:
sim, a trovoada estorva,
mas Abril foi a semente.


E foi tal a sementeira,
tão grande foi a colheita,
que outro mês, dessa maneira,
já não faz nova desfeita.


Abril venceu, foi a terra,
o mosto, o vinho e a casta
de quem disse não à guerra
e hoje, aqui, diz basta!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

CHORÃO


Por que choras tu, criatura,
que mal te fazem, que é de ti?
Quem ousa disputar tua alvura,
teus sóis, como nunca vi?


Bem vejo, as flores são amarelas…
Mas que diabo, passa ao lado.
A vida não é só telenovelas,
Não é só choro, não é só fado.


Presumo, fazem de ti capacho!
É o que temos, não se educa…
Mas se o preço é ficar por baixo,
tal não paralisa a nossa luta!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

FLOR DA CEREJEIRA

Ai cerejas, cerejas, cerejas!
A carne e o açúcar ao mesmo tempo,
se te digo é para que vejas
quanto é o meu contentamento.


São versos simples mas sentidos,
aqueles a que as cerejas me dão azo;
são brincos de versos, assumidos,
doces de sabor a longo prazo.


Que mais inspiração preciso,
Se não o lábio que me beija;
o mel, em poema conciso,
tal qual o gosto da cereja…

segunda-feira, 18 de abril de 2011

FLORES DE PAPEL


Não é o papel o celebrado,
é de flores que aqui se cura;
exultam como o céu estrelado,
lavando as ruas d’ amargura…


Matizam o chão e o olhar
de cores vivas só de as ver,
que dá vontade de chorar
por contento de viver.


As mãos que lhes deram vida
são mãos delicadas de fada,
que em cada folha esculpida
nos dão sol e vida airada…

sexta-feira, 15 de abril de 2011

OLAIAS OU ÁRVORE-DE-JUDAS


Quase nem me apercebia
desta beleza pendente:
cachos de flores, nem os via,
em orgia florescente…


Se Judas, em seu lugar,
baixasse do tronco robusto,
lá se ia o meu olhar
e não ganharia p’ró susto…


São lustres de ornamento,
se não as tocais, olhai-as,
que à vista dão alimento
e luz ao espírito, as olaias.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

DEDAL-DE-DAMA


Caminhava por entre quintais
num ladrar de cães ao desafio
onde estas assentavam arraiais,
em cachos de amarelo e desvario…


Era dos dois seres evidente
o desejo de me ocuparem os sentidos:
os cães, pelo som impertinente
e as flores pelos modos atrevidos.


Os animais, porém, buscaram poiso
e eu, a sós, corado, auscultei a rama:
- demorais muito, ainda, no baloiço?
E não me respondeu, o dedal-de-dama…

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A ROSA


Por fim, a rosa doirada
abriu no meu jardim,
não a rosa rosa, despeitada,
este cor-de-rosa que há em mim…


Que pode a flor mais pura
ser de nós amor constante?
"O amor é eterno enquanto dura",
solte-se o amor neste instante!


Será Verão e depois Outono,
como o dia, que sempre anoitece,
todos os dias, mas em próprio abono,
o nosso amor, intacto, permanece.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

JARRO


Jarro, que escolha tão severa
tem a flor airosa e original…
Alva, altiva e não austera
como cálice de carne sensual.


Só pode ser por crueldade:
para vaso basta onde é criado.
Jarro não, antes majestade
das flores, príncipe encantado.


E se a noiva aceita o seu alvor
e o leva junto ao peito ao altar,
então, a nobreza desta flor
mais se alteia, mais nos pode dar…

quarta-feira, 6 de abril de 2011

FLOR DA LARANJEIRA

Vista assim, até parece
flor sem eira nem beira,
mas o aroma que oferece,
inebria e que bem cheira!


Ai que bem cheira
a flor da laranjeira!


Parece perfume de rosa,
de uma frondosa roseira,
o desta florinha amorosa;
branca flor da laranjeira.


Ai que bem cheira
a flor da laranjeira!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

FLOR DA AMEIXEIRA



De original não tem nada:
nívea de pétalas e de feição,
de cinco folhas asada,
quantos os dedos da mão.


Par de tanta flor afim,
podia seduzir com o odor,
mas nem mesmo assim:
não tem cheiro esta flor.


Então, o que enfim cativa,
que impressão nos deixa?
Tãosó na boca a saliva,
que lembra o mel da ameixa…

sexta-feira, 1 de abril de 2011

MALMEQUER


Malmequer a vida inteira,
bem me quer a pura flor.
Este mal, queira ou não queira,
é, meu bem, um mal menor.

Bem me quer eternamente,
o bem querer adivinhado.
Com o bem, bem pode a gente;
com o mal é que é o diabo…

Pior, mas muito pior,
por cada pétala arrancada
para em vão buscar amor:
- mal me quer, muito, pouco, nada.