terça-feira, 30 de março de 2010

COMO CÃO


Como te invejo amigo cão,
o teu sol e mesmo o teu osso;
não a coleira do pescoço;
........a condição.

Como te invejo o faro, irmão!
Cheirar até o bafo de deus,
seres tu por mim alguém e eu
........o cão.

Como te invejo, meu ciúme é vasto:
o amor que fazes à minha frente,
uivar, ganir como um demente
........e casto.

Como te invejo e te gabo,
como os que, não sendo cão,
pedem guloseimas e dão
........ao rabo.

Como te invejo o dobrar do sono,
ladrar a quem me apetecer
e, se for preciso, morder
........o dono.

segunda-feira, 29 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS (12)


o plano inclinado
sobe
o plano reclinado
desce
o plano sobe e desce

domingo, 28 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS (11)


sobrou lixo
no nicho
tinha um bicho
pequerrucho

sábado, 27 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS (10)


que bela é esta
montada
- monte e deixe-se de loas
sua besta

sexta-feira, 26 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS (9)


horas dadas
sem pressa
bada
ladas
hora a hora
(h)ora essa!

quinta-feira, 25 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS (8)


chiiiiiiiiiiiii
com um prego nos mosaicos
(versos assim
são onomatopaicos)

quarta-feira, 24 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS (7)


naves fora
neves fora
noves fora nada
nu

terça-feira, 23 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS (6)


moinho de vento
semente moendo
moleiro devendo
do pão o fermento

segunda-feira, 22 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS (5)


cordas
cordatas
cordiais
secam a roupa
nos estendais

domingo, 21 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS (4)


cavou à polícia
sub-repticiamente
preso
com as unhas sujas
não é decente

sábado, 20 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS (3)


se matemática
mente
acertada
a conta está errada

sexta-feira, 19 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS (2)


a alface cresceu
viçosa transgênica
verde - lismo
pena o mau hálito

quinta-feira, 18 de março de 2010

VERSOS COM SENTIDOS


a rolha roeu
o rato
o rato tinha bicho
e morreu

quarta-feira, 17 de março de 2010

DA LUA


Só hoje reparei como é branca a Lua
e é mais branca ainda
porque a partir de agora
pensarei sempre que a Lua é branca

mas não lhe vi halos
nem lágrimas radioactivas
sobre as hastes e varandas oficiais

a Lua é branca apenas
enormemente branca

e isso basta-me

segunda-feira, 15 de março de 2010

DA VIDA


Não tenho pressa
não sou de pressas
ainda que o julgues
ou isso te pareça essencial

deixo a tarde adormecer num beijo
quero da noite apenas a cintura

eis o meu recado: não tenho pressa
e ao dizer-to fico
com uma pressa enorme que amanheça

sexta-feira, 12 de março de 2010

DO JOGO II


Meio por meio meado sempre a meio
meio de vida pode lá ser meio ordenado
volta e meia à meia volta me chateio
e depois não querem que seja malcriado

jogo nº. 1 xis coluna do meio

quinta-feira, 11 de março de 2010

DO JOGO


1.
Comeram o meu coração de carne

2.
que sorte ter guardado
o ás de copas

terça-feira, 9 de março de 2010

DEPOIMENTO


A sombra que não faço e faz em mim
que a treva em volta inste e permaneça,
é a prova de que existo mesmo assim
e, por fora, o que quiserem que pareça.

Dentro, só me tenho a ver comigo:
sou o que entendo e quando quero.
Não importa como faço ou como digo;
basto-me apenas com o ser sincero.

sexta-feira, 5 de março de 2010

MEIA-VERDADE


Arrogante manhã de sol, que queres de mim?
Acaso a minha sombra te aperreia ou atenua;
te apaga ou apoquenta? - Não estou a fim:
dá-me mais bem-estar a noite e escolho a lua.

Porém, mentia se negasse que não invejo
os pérfidos lampejos das tuas asas matinais.
Mas só no canto da penumbra é que me vejo;
somente aí são verdadeiros os meus ais.

quarta-feira, 3 de março de 2010

ALMA SOALHEIRA


Soalheiros de alma são estes dias frios!
Coração em banho-maria, que mais quero?
O cachecol de lã acautela os arrepios
e o sangue faz o resto, é o que espero.

Um fio esparso de sol vara a janela
e aquieta-se nas cinzas dos meus joelhos.
E que perfeita fica esta aguarela:
além do colo, a fronte em tons vermelhos.

Ardo na cor e nas sombras mescladas
enquanto oiço, lá fora, do vento os assobios
e o relento que consome as madrugadas.
Soalheiros de alma são estes dias frios!

segunda-feira, 1 de março de 2010

DESÍGNIO


Que ando eu fazendo na escarpa além,
se não é o desejo mórbido ou suicida?
Que incontrolado é esse desdém
de brincar assim com a própria vida?

Tudo e nada. É apenas a memória
de vencer em mim o que há de tíbio
e ganhar na morte, o que é vã glória,
lisonjeiro epitáfio no mármore frio.