terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

RECOMEÇO


Não guardei azedas nem bugalhas. Ficaram
onde as colhi. Trouxe os rios, os dias de sol,
uma ou outra nuvem prestes a debandar
e o canto de um melro escondido numa laranjeira.

Para minha surpresa, não eram já os velhos calções
que trazia vestidos, mas as calças de inverno,
feitas de outras usadas pelo meu pai durante anos,
com os bolsos ainda cheios de cordéis e de sonhos.

Dei pouca importância à invernia, à chuva.
Talvez por isso, não lamento o que posso colher
de novo e sem pressa de fugir aos cães da horta.
Esperarei pelo sol e depois volto a ser criança.