sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

APONTAMENTOS SOBRE AS CASAS


Queremos às casas o mesmo que aos cachecóis,
aos casacos que nos agasalham ou refrescam, mais nada.
Não é amor o que sentimos pelas casas.
Usamo-las, sentimo-nos únicos dentro delas e é tudo.

Dentro de casa somos o que não formos capazes
de ser fora dela. Lá nos refugiamos e lá guardamos tudo:
razões de sobra, memórias avulsas e ninharias
às quais só mesmo nós lhes encontramos algum valor.

É impossível não pensar que há gente sem uma casa,
que vive na rua e não tem segredos para guardar,
aconchego para cobrir a miséria dentro de portas
e chama casa ao lugar onde acontece estar vivo.

As casas são eternas entre si, não para nós,
que as deixamos, as desprezamos sempre com amor,
porque as vestimos e despimos, porque são a pele
do nosso corpo respirando em carne viva.