terça-feira, 1 de maio de 2012

METÁFORA DO TEMPO

O bom e o mau tempo não têm o mesmo significado para toda a gente. Talvez por isso haja quem diga que conversar sobre o tempo serve apenas para encher chouriços. Desenganem-se. Na verdade, este tempo seco e de sol insistente tem o significado de bom para uns quantos ociosos – chamemos-lhes menos avisados - mas não cura os males de (todos) quem pagará com língua de palmo a falta de chuva. Pode a ministra Cristas abrir uma fábrica de guarda-chuvas em cada Distrito e, depois, peregrinar a Fátima em demanda de água em versão celeste que, se é este o nosso calvário, outra coisa não se espera senão a seca severa da ministra e dos seus pares – todos eles, há muito, a pedir chuva! – que era já tempo de irem água abaixo e nos livrarem do atoleiro em que nos enterram a cada dia que passa. Mexeram no astro e agora sofrem as consequências, dizia-me um homem simples há muitos anos, uma vez convencido de que os foguetes espaciais penetravam mesmo nos céus e poisavam noutros planetas, sem de lá caírem, como natural seria se poisassem em baixo ou de lado. O conhecimento científico evoluiu muito e, entretanto, foi chegando aos poucos até aos locais mais recônditos do planeta. O homem adquiriu conhecimentos políticos e científicos, pese embora, como ser humano, dono duma mente permeável a todas as fábulas, mantenha crenças e mistérios onde tudo cabe, onde tudo é possível ser-lhe submetido. Em seu tempo, sempre nos confortam: o sol quando nasce é para todos. É o que oiço dizer, embora não faça fé acerca do dito, que me parece um tanto adverbial e pouco sério. Depois, sempre há aquelas claraboias de contentamento, que são as caras dos amigos de passeio, quando o famoso anticiclone dos Açores se impõe autoritário e nos dá o aconchego urbano, o conforto dos dias que nos pesam como chumbo… Mas o sol é, já deixei ver, a mentira que nos oferecem diariamente, para que adocemos o espírito já puído de tanta cicatriz e fiquemos moles, estáticos, assertivos e… contentes. Exijo a chuva, a chuva a cântaros, capaz de levar pelo nabal abaixo este míldio apostado em comer a planta e o fruto de Abril. Abril: águas mil! Aqueloutro da lambreta, ministro mimo-da-mamã, armado em manda-chuva, mas a estrangeiro mando, mandou cessar as reformas antecipadas a pretexto do esgotamento da segurança social. É um finório, um ex-futuro libertino que acredita na eficácia da chuva molha-parvos. Um sonso de beiços precisados de batom para o cieiro. Galo sem crista nem assunção de que poupa para dar aos estrangeiros ávidos dos nossos últimos cêntimos. A sul, a superstição do “cheiro a terra molhada” evoca fatalidade e morte; a norte são as “terras do demo”, segundo Aquilino, que vergam a coluna dos homens. Em ambos os casos, a água chovida é uma bênção para as sedes da terra, para a secura dos homens e para a enxurrada que é necessária para levar adiante os escolhos deste país assoreado de malfeitores a soldo. É agora o tempo das trovoadas e dos súbitos aguaceiros que, assim de rompante, mais ajudam à estragação. É água que estraga as plantas e frutos e apanha as barragens de surpresa, sem condições para o melhor proveito. Se tivesse de encontrar paralelo com as políticas dos postilhões de agora, diria que em 2014 choverá de cada um segundo as suas possibilidades e a cada um segundo as suas necessidades… Mentem para continuar a mentir, como num boletim “mentirológico” à moda antiga. Maldade que agora não for chuva sê-lo-á, depois, com juros, enquanto não formos capazes de nos precaver contra intempéries, que podem ser de sol ardente, de chuva copiosa ou de reles e mentirosa gente. Se a chuva for o pranto de quem diariamente não encontra as respostas para o seu futuro porque as bátegas cegam ou iludem os caminhos, então é este um imenso charco de água e sal onde saber nadar não basta e onde é necessário estender as mãos solidárias perante o iminente afogamento. E assim chegámos a este chove-não-chove, versão não meteorológica, em que a conversa sobre o tempo, afinal, tem lá que se lhe diga…