sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

AS FEIRAS


Chorei por mil tambores.
Todos me pareciam magníficos.
Com qualquer um faria marchar o soldadinho de chumbo,
escondido algures, mas com certeza dentro de mim.
Talvez tenha conseguido um ou dois, talvez três.
Normalmente ofereciam-me pandeiretas,
que eram mais baratas. Eu pensava apenas que eram de menina
e por isso as rejeitava.
Se fosse mosca e presenciasse aqueles despiques,
Saint-Exupéry acharia, certamente, cativantes os meus apelos,
ao contrário do meu pai,
que não lhes encontrava muita graça.
Mas os feirantes adoravam-me e até me faziam festas,
mesmo que não me conhecessem de parte alguma.
As feiras, mais do que as simples festas,
tinham a minha preferência.
As festas aborreciam, prolongavam-se demasiado
e tinham poucos motivos de interesse para a criançada.
Por outro lado, as feiras,
para além do ar de festa que eu lhes via nos balões,
nas luzes e cores e na gente sempre em movimento,
tinham o encanto do regalo que eu podia levar para casa,
continuando a divertir-me
e a atormentar os ouvidos de todos,
até à próxima.