quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

PARQUE INFANTIL


No parque infantil, as folias eram tudo menos pacíficas.
Havia como que uma hierarquia tácita
que geria a distribuição dos equipamentos.
Os mais novos raramente tinham direito ao fleumático e solene baloiço:
uma espécie de tirania reinante
relegava a maioria para a barca, e os seus balanços enjoativos;
os cavalinhos, que rodopiavam até à náusea;
o sobe-e-desce, propício a grandes trambolhões;
e o escorrega, que puía os calções e as carnes mais sensíveis.
A solução era o choro convulsivo
que a servente entendia sem grandes explicações.
Mas assim alteravam-se as regras
e isso poderia ter as consequências menos desejadas
nas próximas tardes de domingo.
O melhor era que os mais velhos se cansassem de tanto vaivém,
e deixassem o lugar vago
para os que há muito espreitavam oportunidade.
Sorte assim valia os cinco tostões da entrada.
Numa placa metálica, quase sempre encoberta pelos arbustos,
sobrevivia à ferrugem uma quadra de João de Deus
exaltando os nossos inocentes corações.
Quando a minha vez chegou já tinha perdido o interesse pelo baloiço
e nunca mais voltei ao parque.