quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

ÁRVORE DE NATAL


A ventania de ontem à noite

tombou uma azinheira centenária, em frente da minha casa.

O fôlego da tempestade,

em contraste com o seu já débil alento, 

foi superior às suas forças. Respirava ainda quando a vi:

arrastando a ramagem

e os escassos frutos no chão molhado,

suplicava o impossível conserto da sua coluna vertebral.

Não chorava – tanto quanto eu pudesse perceber – suplicava

a mão, o gesto ou apenas o olhar

a quem sempre a julgou eterna e eterna haveria ser

depois de nós e ainda dos que viessem.

Com um dos ramos tocou-me ao de leve.

Pareceu-me uma carícia, um aceno

ou o desejo de lançar nova raiz,

agora que a morte tornava inevitável a remoção.

Aceitei o ramo como presente.

A velha azinheira ofereceu-me a sua eternidade.