quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

INTERLÚDIO LUNAR (VARIANTE)


Não assistirei à floração dos jardins da Lua,
não chegarei a tempo para ver as flores radioactivas
explodirem cinzentas, nem o pó da natureza nua
cobrindo as vinhas doces que foram prometidas.

A Lua perdeu pontualidade sobre as ondas do mar
e é agora sombra da própria sombra rara e escura.
O tempo ganhou penumbra; perdeu de vez o luar
e morre junto à praia, que a Terra encharca de secura.

Não voltarei, que errante me perco na espessa neblina,
em tufos de gás e fumos, que o chão expele agastado.
Das fases ficou aviso para o vazio que domina
e o brilho, o encanto dos jardins, memória do passado.