Chove. Chove fora e dentro de mim
a copiosa água. Desforma o dia,
fustiga, tocada a vento e assim
decanta e escorre amarga e fria.
O céu lamenta-se, cinzento,
e espelha a cor da terra que piso:
os charcos, o triste chão, o meu alento
reprimido, quando mais dele preciso.
Tudo é água invernosa que amolece
e nos beirais de abrigo a mesma trova.
Fico aqui parado a ver o que acontece
e a suplicar em vãs lamúrias que não chova.