sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

PLANO B



Não é o mesmo que o lado B da vida; do disco que se preenche do outro lado, apenas por que o dito tem obrigatoriamente dois lados. Não. O plano B é algo que se aplica quando a principal tentativa se gora. Tem como características fundamentais ser de inferior qualidade, ter maiores probabilidades de ir por água abaixo e, pior que tudo, carrega às costas o ónus do falhanço.
E a primeira tentativa desta maioria ia no sentido de mostrar a verdade aos portugueses, de melhorar as coisas, de tornar mais fácil o que porventura outros teriam convertido em insuportável, li nos jornais.
Eis assim que os primeiros adoptaram como plano alternativo a difusão da ideia de que o povo está contente; as elites é que instigam o protesto, enquanto os mestres da empalmação que os precederam, garantem que tudo não passa duma inconcebível cabala, o que nos leva de novo a pensar na mãozinha misteriosa. Em resumo, quer de um lado quer de outro, entrámos no domínio da prestidigitação, da cartomancia ou sei lá de quê neste país acostumado a ir à bruxa, e o mesmo é dizer que ambos adoptaram o plano B, para mal dos nossos pecados.
Mas nisto de adopção do plano B, sendo paradigma dos meios políticos dominantes, não é infelizmente exclusivo seu. Aliás é moda, talvez copiada da teoria conhecida por terceira vaga, qualquer que se preze dá ares da sua arte de bem cavalgar em toda a sela.
O destaque vai necessariamente para a quantidade de gente mais ou menos conhecida noutros misteres – como excepção à regra, aparentemente bem sucedidos – que de repente desatou a escrever livros sobre os mais variados temas, a maioria autobiográficos, dando assim ares do seu eclectismo, para desgraça da literatura.
Voltando no entanto à vaca fria, poderemos estar perante uma nova ilusão: um qualquer signo trocado, um horóscopo mal interpretado e o principal plano não passar afinal de cortina de fumo que não deixa ver a verdadeira essência do plano B, tal como o conhecemos. Por isso julgo que cabe assim aos restantes cidadãos molhar a pena noutro tinteiro e escrever por linhas tortas o que, não é preciso enxergar muito, não é possível nas direitas.