quarta-feira, 30 de junho de 2021

O VERBO SER


Estás convencido de tudo, que conheces tudo;

que sabes até por que tudo é como é.

E afinal erras, enganas-te, tropeças e feres-te

por saberes tudo de toda a gente, tudo de ti.

Enuncias os verbos, conheces de cor os advérbios,

longe de saberes o que está mais perto…

Ainda agora acordaste e já o sono de novo te invade;

ainda agora nasceste, ainda hoje morreste sem dares por isso.

Conheces a migração dos pássaros e a raiz

que prende as árvores à terra pelo mesmo motivo.

É claro que é a vida. Que mais haveria de ser?

Aprendeste o aroma dos frutos, o valor da água,

do sol, da terra. É provável até que saibas o significado do sangue.

Do teu sangue e do outro que corre por aí, avulso e sem nome.

Estás mesmo convencido que és aquela figura

que te mostra o espelho, como ainda ontem aconteceu.

Se não falasses, não te teria reconhecido,

porque ainda falas e falar é o recomeço de tudo.