terça-feira, 28 de janeiro de 2020

BEIJOS DE ÁGUA




Chamem-lhe água à solta ou rio,
que de pedra em pedra murmureja;
é aí que a minha sede sacio,
sorvo a sorvo como quem beija.

Ao beijar a água doce da corrente,
matando a sequidão, ela canta:
o rio percorre o corpo de contente,
refresca a minha alma e a garganta.

E quando, enfim, a sede saciada
permite à lucidez que se revele,
eu dou conta que o beijo da levada
foi do rio a mim e não eu a ele.