Para dizer toda a verdade,
se a memória não mente,
tudo começou na puberdade,
era coisa de adolescente.
Algo vivo que remexia
ao mais subtil pensamento:
ora esticava, ora encolhia,
tal era o atrevimento!
Tinha um aspecto estranho
e manhosice de sobra
para alterar o tamanho,
como se fosse uma cobra.
E naquela doce ignorância
convivi por algum tempo,
sem lhe dar grande importância
em artes de passatempo.
Cobra, vampiro, isso era,
que de sangue se nutria,
o bicho que ali acolhera
era a mim que ele comia.
Pensei: vamos mas é a ver
se o safado me compensa;
se está em mim para comer,
não sirva eu só de despensa.
Guardei dentro de mim
esta dúvida perseverante
e, durante uns anos, enfim,
acho que compensou o bastante…