quarta-feira, 23 de maio de 2018

DIA DE FEIRA


Além da chita, o riscado
na borda da tenda pendentes
em dia de mercado:
são pobres os clientes.

Mas há lá coisa mais sã
que um casaco de surrobeco
ou burel, que é autêntica lã;
não é qualquer farrapeco…

Para o dia de mercado,
pano cru de metro e quarenta,
que o povo quere-se tapado
ainda assim, a ver se aguenta.

De sarjas grossas e cotins
também se gastam na feira;
gangas e tecidos afins
para os de parca algibeira.

Popelinas e tafetás são
lordes das prateleiras,
panos de outra condição,
não são trapos para feiras.

O mesmo de sedas e rendas,
que aqui nem é bom falar…
Isso é doutras encomendas,
Não serve p’ra trabalhar.

Na feira de assentido engano
onde não há pontos sem nós,
enquanto uns tecem o pano
o tecido faz-nos a nós.