Oiço sempre uma música de sons sobrepostos
no arvoredo, uma nova cantata a cada dia.
Uma orquestra em permanente afinação dos instrumentos
e o contrário seria muito estranho; preferia o silêncio,
nunca o som que revolteia as raízes
e brota à flor da terra sob a forma de cogumelos
de falso vermelho sedutor.
Mas não são as árvores que cantam, não são as aves
que chamam, clamam, gritam, vivificam…
o que trauteia de improviso e me inunda de música
os compassos do peito, as pautas da imaginação,
é a vida ainda ali poisada nos ramos que verdejam.