quinta-feira, 8 de novembro de 2012

ALBERTO CAEIRO


Ontem encontrei Alberto Caeiro.
Tinha um ar comisero, pesado,
e os olhos ardiam-lhe como lume.
Lia Cesário Verde e as lágrimas
corriam-lhe como a uma criança.
Arrastava os versos do mesmo modo
como se carregam os últimos cestos
da vindima, onde Cesário
tossia do princípio ao fim.
Não reparou em mim e ainda bem:
não iria dizer-me nada que eu não soubesse já;
nem as suas lágrimas
seriam mais verdadeiras do que os meus versos.