sexta-feira, 15 de junho de 2012

JORGE DE SENA


Jorge de Sena não saiu de casa
dia dezoito de janeiro de mil novecentos e setenta.
O mesmo aconteceu em 7/12/70 e 1/12/1974.
É possível que também assim tenha procedido
noutras ocasiões, não posso garanti-lo.
Consequência de Sequências.
Copiei os seus versos a lápis,
o livro era caro para as minhas posses
e guardei a sebenta durante algum tempo.
Reencontrei-a num aniversário recente da sua morte,
em Santa Bárbara, Califórnia,
em quatro de Junho de mil novecentos e setenta e oito.
Longe portanto de saber deste meu arrojo,
provavelmente arrependido por não ter saído de casa
durante aquele ror de dias
para espairecer e escovar da alma o pó,
evitando assim cuspir poemas, cuspir nos poemas
e legar-nos cuspidelas poéticas.
A saliva, é certo, tem qualidade literária,
mas não se cospe no poema que se escreve.