segunda-feira, 26 de setembro de 2011

UM CERTO ROMANCE


De tão pueril e casta,
mais esperta do que culta,
depressa se fez madrasta
e virou mulher adulta.


Não o digo por espanto
nem sombras d’amiração,
que tampouco sou um santo
ou falho de compreensão.


Digo-o por contrição
e as penas me sejam brandas
(impulsos do coração,
que o amor faz em bolandas).


Casta e pueril, como disse,
pareceu-me a alva flor,
quer ela chorasse quer risse,
em tudo eu via amor.


Dentro do peito guardava
recatos mil por tesouro,
não de fel, pois pensava:
-longe de mim vá o agouro.


Tudo efémera ilusão,
oásis de fruta e de mel:
quando o amor é paixão
da carne fica só pele.


A tempo não consegui ler
seu ar pueril e casto
e tive então que aprender
à custa do próprio canastro.


Lá vingou o seu conceito
de moça, profanada em fúria,
que o mais que tinha no peito
não era amor, era injúria.


Não era assim nem assado,
mais esperta do que culta.
No fim, fui eu o culpado;
eu é que fiquei com a culpa.