quarta-feira, 25 de novembro de 2009

DA FÉ



Creio na predestinação do homem
e na cumplicidade da sua mulher original,
exceptuando as inocentes e virgens,
que os anjos e arcanjos protegem, encolhendo os ombros
largos e complacentes.
Creio na capacidade de perfuração das balas,
na precisão milimétrica dos mísseis intercontinentais
e na utilidade para o ocidente
da propagação, via satélite, de todos os discursos
do presidente norte-americano de serviço.
Creio no cancro de estômago e no salário mínimo,
apesar dos relatórios oficiais, creio
na perseverança do bicho-da-seda e da formiga
e no imperturbável sono dos ursos.
Creio nos acidentes de percurso e nos percursos sem acidentes,
na oportunidade ou favor de um etc,
mesmo antes de compreender o gargarejo,
a ladainha e os supositórios
a que qualquer ilusionista recorre
perante a mais inocente das enxaquecas.

Do que não estou certo é se é de vinho ou água benta
a bebedeira dos dias em que nada acontece,
oh providenciais taberneiros.