quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A RUA ONDE MORO


A rua onde eu moro não tem casas;
só tem árvores e gente ao fundo.
E eu não tenho braços; tenho asas,
que me carregam até ao fim do mundo.

Posso voar, ver com olhos de pardal,
a rua verde e sem casas onde moro.
Alva, deserta: um vastíssimo quintal
em que não estou, não vivo, apenas choro

compulsivamente água e persistência.
Por isso aceno-me um adeus de abalar
para onde o relento me acolha ao luar,

feito nuvem, nimbo ou engenho de voar.
E sem atenças volto a ser essência
de onde mora a minha própria ausência.

12 comentários:

  1. belíssimo Poema , POETA ...
    Deixo-me ficar lendo e relendo, ouvindo a música e um cão ladrando ao longe ...
    Abraço , POETA!
    ___________ JRMARTO

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  2. e quem se importa com casas, quando se tem asas. mesmo assim, fiquei triste...

    um beijo, joão.

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  3. Eu gosto deste soneto, que é, provavelmente, dos melhores que escreveste. Se tiver tempo e pachorra, talvez o analise como se o explicasse a alunos do ensino secundário.
    Pessoa andou por aqui há pouco tempo, não andou?
    Abraço.

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  4. Quem tem asas no lugar dos braços, bem pode dizer que a sua rua é o mundo todo.
    Esta música... Linda!

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  5. Um soneto que me prendeu, do inicio ao fim, como a rua onde mora a ausência...
    Abraço
    Chris

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  6. Quando se chora persistência, a lágrima suaviza e lava a alma ...

    LÁGRIMAS(S)

    Sabes?!
    Não poderás saber!

    Finge ou desmente...

    Só sabe da lágrima
    Que deveras sente.
    (nov.2007)

    Por isso, aceno-te sem adeus de abalar,
    permanecendo!

    Beijinho
    Mª Jose

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  7. Passei na tua rua, ao som da sonata, João, e adorei.

    Beijo

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  8. Bom ler você neste dia que vai tomando corpo ao corpo do Universo.
    Tem um convite no meu cantinho, para você e seus amigos,
    Efigênia Coutinho

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  9. Cheguei aqui, a esta rua sem casas mas cheia de musicalidade nas palavras, no vento e nos sentimentos e perguntei-me: por onde tens andado Graça? Voltarei, sem dúvida, para recuperar tempo...Um beijo Graça

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  10. O João consegue poemas perfeitos e de uma doçura invejável.
    A fotografia coloca-nos no centro do poema fazendo-nos essa personagem alada e que apenas vê para alem desse tempo e dessa rua.

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  11. Lindíssimo, este seu poema da rua sem casas.
    Bela imagem, também. :-)

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