quinta-feira, 10 de setembro de 2009

NO REGRESSO ÀS AULAS

 Há muitos anos que faço, por gosto e dedicação, e sempre que convidado para tal, actividades de animação com crianças do Ensino Básico e Secundário, designadamente, acções de dramatização de histórias e lendas, promoção da leitura, leitura de poemas próprios e de outros autores, e também saraus, colóquios e tertúlias para outros públicos.
Para além da ilustração avançada nesta minha apresentação, posso dar conta de que tenho, desde 1972, oito títulos de poesia e um de ficção editados, colaborações dispersas em jornais e revistas, como é o caso, actualmente e desde há onze anos, no Ensino Magazine.
É assim meu propósito colocar-me à disposição (como aconteceu já neste blog em Junho passado) para eventos que entidades interessadas queiram levar a cabo, nos quais se enquadrem actividades como as que atrás refiro, sendo a divulgação respectiva por conta de quem as promova.
O valor de cada sessão (cerca de uma hora) será de setenta e cinco euros, mais despesas de alimentação e transporte.


Contacto:


e-mail: teijoao@gmail.com




a esferográfica


(uma história)

Há um bom par de lustros, era eu um recém responsável pelo balcão albicastrense da Aliança Seguradora, fui convocado para um seminário a ter lugar num hotel de Caldas da Rainha.
Dizia a convocatória que o evento seria nos próximos sexta e sábado e versaria temas da área comportamental. Mais dizia, que os participantes viriam de todo o país e, por isso, não seria de estranhar que os colegas não se conhecessem. O traje seria informal.
Dormi no dito hotel de quinta para sexta e às nove em ponto já estava no átrio disponível para a chamada.
A convocatória avisava que “não seria de estranhar que os colegas não se conhecessem” mas a surpresa é que não conhecia absolutamente ninguém. Nem de vista!
- Isto foi mesmo organizado a preceito – pensava eu ali colado ao balcão da recepção. Era no entanto estranho que “eles” se conheciam ou pelo menos conversavam entre si. Estariam a fingir, a armar ao fino? Ou era eu, pobre elemento da província, a quem os colegas de Lisboa e Porto não passavam cartão?
Após um certo burburinho, por volta das nove horas, todos se encaminharam para a sala de reunião, tendo-me assim misturado com aqueles cerca de trinta indivíduos, que então passaram a cumprimentar-me, sorrindo amavelmente.
Dentro da sala, todos procuramos assento à mesa que era disposta em “U”.
Confortavelmente sentado, solicitei uma pasta e uma esferográfica, troquei dois dedos de conversa de circunstância e comecei a reparar por baixo da mesa à minha frente que alguns “colegas” calçavam sapatilhas.
- Informal, mas não tanto, caramba! – Ajuizava eu de forma crítica.

Foi por esta altura que um sujeito, talvez o director, por sinal bastante simpático, me abordou, inclinando-se sobre o meu lugar e perguntou:
- O colega, desculpe, veio de onde?
- De Castelo Branco. – Respondi prontamente.
- Então deve estar enganado. Isto é uma reunião do pessoal das Águas do Areeiro.
Pedi desculpa de forma atabalhoada, devo ter corado como um tomate e saí da sala com tanta vergonha, que se tivesse ali um buraco, ter-me-ia afundado e desaparecido, tal o vexame.
Cá fora, conferi a convocatória: sala dois às 9.30 h.
Pedi então licença para entrar na sala seguinte, onde já funcionava o “meu” seminário. Voltei de novo às desculpas, mas desta vez já mais aliviado. Afinal eram quase todos conhecidos!
O monitor era um tipo divertido e deu início aos trabalhos com uma prelecção sobre… o trabalho. Dizia ele que era preciso aprender a trabalhar para não ter que trabalhar. Para criar ambiente pediu-nos que contássemos de viva voz uma história que tivéssemos vivido e que achássemos divertida.
Naquela altura do campeonato já eu achava divertida a minha história de há meia hora atrás e foi essa que contei.
No fim, os meus colegas riram a bandeiras despregadas à custa da minha peripécia e eu reparei que ainda tinha apertada na mão a esferográfica das Águas do Areeiro, que me esqueci de devolver, e rematei:
- Se não acreditam, tenho aqui a prova. E mostrei-lhes a esferográfica.

10 comentários:

  1. Que trabalho bonito este teu, João. Trabalhar com cultura, arte e literatura é tudo de bom. Tenho inveja (da boa) de quem trabalha nesta área. beijos.

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  2. Gosto desse jeito de contar.
    Entrando na narrativa, parece que não foi difícil transformar uma situação constrangedora num motivo de descontracção e bem-estar.

    Um beijo

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  3. A história não é longa.
    Está convidativa e quase nos deixa ver um jovem com um interior em expectativa e a sua luta com a incerteza.

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  4. João, diverti-me co m a esferográfica das àguas do arieiro, gostei do troca-tintas, e muito da núvem.
    Vou passar a visitar-te de quando em vez.
    Beijos, Olga

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  5. Um convite à prosa, a às histórias simples e deliciosas...
    Um abraço
    Chris

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  6. Como sabes, gosto das tuas "estórias" e desta também.
    Mas recomendo aos colegas comentadores a leitura de "Mar de Pão". E do inesquecível Xico Velhaco.
    Abraço.

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  7. João, ler você e acontecer, estava mesmo com saudades de vim neste seu recanto mágico, adorei!!!
    Passa na minha casinha, venha sentir a minha
    PRIMAVERA,
    Efigênia Coutinho

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  8. Gosto de lêr as tuas histórias. Qualquer tema te serve para fazer uma história.
    Adorei a que me deixaste.
    Obrigada João.
    Beijo.

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  9. Linda história, muito bem contada.S
    audações Florestais !

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  10. o que não se faz por uma esferográfica... eh eh eh...

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