segunda-feira, 27 de setembro de 2021

DIVINOS ENLEIOS


Ah, que sorte: hoje há deuses lá em cima

sedentos de versos, dormentes de sono!

Vou fazer-lhes pontaria com rima

e acertar-lhes em cheio no buraco do ozono.

 

Podia ser em lugar alabastrino, como a testa,

mas é pecado, além da enviesada geografia:

não os quero mortos nem o fim da festa,

quero apenas treinar a pontaria.

 

Qualquer deus é grande, maior que tudo,

de forma que vivem longe em lugar além…

A seu modo poliglotas, estilo surdo-mudo,

e assim ditam o pecado, o mal e o bem.

 

A seus ministros é pesado o fardo alombado:

abençoam, excomungam, conforme as escrituras,

alteram as combinas, corrigem o pecado

e determinam a morte e as vidas futuras.

 

Eu vou falar com um deus um dia destes

e dizer-lhe cara-a-cara, muito abertamente:

“mas que mundo é este que concebestes

onde só vós viveis sem leis eternamente?”