quarta-feira, 3 de março de 2021

BILHETE DE IDENTIDADE



O tempo passa e vou com o vento…

de manhã esfrego as mãos como quem reza:

é um modo de permanecer atento

e ajuda a ter, pelo menos, meia certeza.

 

Quando a tarde cai e o dia escurece

é hora de avaliar o bom e o seu contrário.

São contradições de quem permanece

e vai retirando folhas ao calendário.

 

Haveria de ter sido um pássaro, ocre,

de olhos bem abertos, como se encantado;

aquele que por ser desenho não sofre,

em vez de sofrer de tanto ter voado.

 

Querem encontrar-me, saber quem sou?

O silêncio basta, mapa não é preciso:

um pássaro que sem querer voou,

algures entre uma lágrima e um sorriso.