sexta-feira, 11 de setembro de 2020

DE CHILE VESTIDO


Pablo cantava o gelo e o fogo

da pampa

do bosque

da vida

a razão enfeitiçada de um povo

que rasga a terra

como quem faz um poema

 

Era como se a esperança florisse

nos muros de Santiago

em letras cor de madrugada

apunhalada

pelas costas

com um sabre de prata.

 

Era como se o cobre limasse a retina

emboscada

nos olhos do abutre ianque

 

Era como se a noite tivesse

corvos no peito e dina

mite nas veias

morfina

 

E havia grãos de areia na ternura

Sorrisos

a mais no vocabulário

da paciência

 

Mas o metal corrói

é uma larva que se entranha

e deixa lastro de sangue

em Três Álamos por inventar

 

E o metal corrói

é uma doninha que suga

exangue

e Setembro é que nos dói.


(Ultrapassar os Limites, 1980)