sábado, 16 de abril de 2016

A VARANDA


Na varanda, onde à tardinha ponho a mesa
para comer fora, o mundo ganha as cores que eu quiser.
Às vezes, a vizinhança ignora-me ou finge
que não vê a ostentação exibida nas latas de conservas,
outras cumprimenta-me efectuosamente,
como se há anos não me enxergasse o rasto.
Pura ilusão: tentam ler os rótulos das embalagens;
querem saber mais do que lhes quero mostrar.
É nessas alturas que lhes atiro cá do meu sítio:
- são servidos? Mostram-me a palma da mão
e recolhem-se, pensando sabe-se lá o quê sobre mim.
Pelo contrário, visto da rua, querem lá saber
se como ou me divirto a ver quem passa.
Não é o mundo que me vê;
sou eu que vejo o que o mundo vê em mim.