quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

MEMÓRIA DOS CHEIROS

Não havia cheiros como os da casa da minha avó.
Ah, se eu pudesse descreve-los,
reproduzi-los com palavras perfumadas!
Subia as escadas
com aromas carregados de maresias recentes,
misturados com o perfume do irrepreensível encerado
e sabia, pela corrente de ar vinda da cozinha,
que uma grande fatia de pão caseiro,
com queijo de cabra, me estaria reservada para a merenda.
Cada recanto tinha o seu próprio odor,
por isso reconhecia de olhos fechados
a geografia de toda a casa
e do meloso aroma das mãos que me afagavam o rosto,
dos lábios que me beijavam,
do regaço que me acolhia como ninguém.

7 comentários:

  1. Os cheiros e os sabores de um tempo de eternidade. Eternidade sim! Porque nos ficam colados na pele para sempre, porque nos absorvem os sentidos, porque nos ensinam, como nenhuma outra coisa, o significado da saudade mais terna, porque nos trazem à memória pedacinhos risonhos de nós...

    Um beijo

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  2. Acho incrivel que toda infancia tem cheiro de casa da vó.... ate hj qd visito minh velhinha sinto os mesmos cheiros de infancia, o mesmo cheiro de cafe com bolo de fuba, é um cheiro maravilhoso, é o cheiro que tenho como segurança!

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  3. Que saudade eu tenho da minha avó! Um abraço.

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  4. A minha avó paterna terá tido menos importância na minha vida; no entanto, ainda hoje a recordo com imensa saudade e emoção. E também guardo o odor das maçãs bravo de Esmolfe, que dependurava no forro da sala da sua casa.
    Eu gosto deste poema.

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  5. Olá João
    Já tinha vindo aqui e fui-me embora conservando esses cheirinhos que me ficaram gravados em casa da avó. Recordações que sempre nos marcaram.
    Carinhos e atenções como nunca mais tivemos.

    O teu poema tem uma raiz com uma linha de pensamento que é coisa única nas nossas vidas.

    Um abraço

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  6. João, fiquei enternecida com estas tuas memórias. Consegues, como ninguem, passar esse testemunho. Acho que "trabalho" para que os meus netos tenham essas memórias que considero muito saudável. Tenho que confessar que me rolaram duas lágrimas sem pedirem licença...
    Ana Maria Carvalho

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  7. Olá João,
    Doces lembranças, suaves e (e)ternos cheiros que guardamos para sempre!
    … se não é fácil descrever os cheiros doces do aconchego de um lar, o seu perfume solta-se nas tuas palavras e é tão difícil acrescentar-lhes algo ! Apenas apetece imaginar, lembrar, sentir, esse afago no rosto, o regaço de mãe e avó onde somos sempre pequeninos , os seus meninos…
    Beijinhos, MJ

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