sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

MEMÓRIA DOS CHEIROS II


Todas as salas de aula apestavam.
O fedor era húmido e também poeirento.
O giz e a esponja que lhe apagava o rasto eram os cúmplices oficiais.
Pelo cheiro não se adivinhavam os humores do mestre,
nem a resistência da sua cana de cinco metros,
nem a espessura da sua régua disciplinadora.
A predita tabuada ressequia o olfacto a qualquer um:
sobejava apenas um tímido fungar,
aproveitado para encobrir os erros de atenção.
Mas no pátio, os canteiros cheiravam a rosmaninho,
a flores sem nome e a rosas.
O intervalo era pequeno, porém, tinha cheiro a liberdade.

5 comentários:

  1. Como é bom o cheiro da liberdade! Só sei ser livre, só vivi e nasci depois do 25 de Abril. Um abraço.

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  2. A escola tradicional, em todo o seu "esplendor"!

    A "escola primária", para mim, foi sempre motivo de alegria. A professora era boazinha. Tinha cabelos brancos e um ar doce de avozinha. Influenciou-me ao ponto de eu nunca mais ter largado a Escola. Ainda a frequento e já poderia estar a fazer malha no sofá.

    Um beijo

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  3. Que série linda, João. Eu às vezes sinto o cheiro do guardanapo onde embrulhava o lanche, da sopa branca com cheiro verde e do mingau de chocolate, que eram servidos no intervalo:) Cheiro de saudade boa. beijos.

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  4. Sabes, quanto mais vezes leio, mais triste fico pela realidade que aqui retratas de um outro tempo de escola, onde o frio se sentia nas paredes e rostos, lá dentro, na sala de aula.(Nunca senti assim,até hoje)

    Ah!A espera era compensada pelas brincadeiras e correrias nos pátios quando chegava a hora de sair.
    (ainda é :) Os miúdos, por melhor que se sintam na sala, "saltam" ao toque da campainha)

    A Escola é "Metade" da minha Vida

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