sexta-feira, 28 de maio de 2010

O TEMPO E O GOVERNO QUE TEMOS


Nos meus primeiros anos de Alentejo, como ainda hoje, sempre procurei inteirar-me de como os alentejanos interpretam as coisas e o sentido delas no seu modo peculiar de falar. Aprendi que ao vento forte e arreliador chamam busaranho e que quando o sol não abre e chuvisca (aquela chuva a que me habituei a chamar de molha parvos…) os alentejanos chamam morraçar ou amorraçar.
Num dia em que essas condições meteorológicas se cumpriam e a companhia – constituída por homens moldados na planície, com a terra e com o gado – resolvi lançar o vocábulo aprendido com eles, para me associar e me sentir mais próximo daquele colectivo que, evidentemente, só integro com o coração. Por isso, soltei no momento:
- Está a amorraçar
Teria sido a minha lança em África; a minha aproximação mais conseguida, mas saí-me mal. Um dos do grupo corrigiu-me, carregando propositadamente no sotaque, em jeito de interjeição, para que eu sentisse a reprimenda e atirou-me:
- ‘tá cabanêro!...
Esta expressão tem um significado semelhante, mas aconselha também a não sair de casa. No caso, qualquer coisa como “vamos para dentro, que isto aqui não é vida…”
Se não contasse isto, rebentava. Mas tal vem a propósito de outros desentendimentos, de que me ocupo agora.
Escrevo esta crónica em finais de Maio. A primeira redundância é que, às portas de Junho, continuemos com um tempo instável: chove e faz frio num dia, para no dia seguinte parecer que o verão chegou em força. Nada mais falso: a seguir vem um dia de Inverno, que se não nos constipa, no mínimo deixa-nos constrangidos, sem vontade de sair de casa, sem ânimo para respirar fora das quatro paredes.
As alterações climáticas constantes provocam sensações estranhas no comportamento, irritam, deprimem, fazendo com que as vontades vacilem entre o quero e o não queria. Talvez mais importante do que isto são os danos na natureza, irreversíveis, na maior parte das situações.
A segunda redundância é a semelhança que tudo isto tem (e sublinho que em ambos os casos se trata de manipulação consciente e criminosa) com a orientação política do governo que temos, como se lia num recente comunicado da CGTP, “sob o estafado argumento do défice e dos sacrifícios para todos, prepara novas e graves penalizações para os trabalhadores e para as camadas mais desfavorecidas das populações, ao mesmo tempo que cria condições para que os grandes senhores do dinheiro aumentem as suas fortunas.” As afirmações e desmentidos diários ultrapassam já o aconselhável pelo manual da incerteza e situam-se, nos dias que correm, mais do que na incompetência, na orientação premeditada de atingir quem menos meios tem para se defender, se não lutando, lutando, lutando!
Lutaremos, pois. Nem que chovam picaretas!

3 comentários:

  1. Olá João! Boa Tarde.

    Lutaremos nem que chovam picaretas.

    Isso só mesmo no fim do mundo. Picaretas andam por aí na política e noutras partes.
    Esses cara de pau continuam a brincar com o fogo e quem se queima são os mais fracos.

    Espero ainda por pior porque melhor ninguém faz nada. Subiram e incharam com os votos e pensam que eles e só eles tem razão.

    Um abraço no desejo de que tenhas um bom fim de semana.
    Peço a Deus que não te caia a "picareta" em cima

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  2. Lutemos ainda que com as palavras João!
    Como diria o nosso Leminski:

    En la lucha de classes
    Todas las armas son buenas,
    Piedras
    Noches
    Poemas


    Ainda que chovam picaretas!!!
    Ab FT

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  3. Está a amorraçar ou tá cabanêro em Alentejo, sobre os ombros dos bons trabalhadores? Eis a questão. (sorrio).

    João, ótimo desfeche que deu para a saga de Bronson em meu blog, porém, receio que terríveis acontecimentos estejam por vir sobre a sorte de Bronson. (sorrio).

    Abraço, amigo, e obrigado!

    Jefhcardoso

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