terça-feira, 6 de abril de 2021

DIA DE FEIRA


Além da chita, o riscado

na borda da tenda pendentes

em dia de mercado:

são pobres os clientes.

 

Mas há lá coisa mais sã

que um casaco de surrobeco

ou burel, que é autêntica lã;

não é qualquer farrapeco…

 

Para o dia de mercado,

pano cru de metro e quarenta,

que o povo quere-se tapado

ainda assim, a ver se aguenta.

 

De sarjas grossas e cotins

também se gastam na feira;

gangas e tecidos afins

para os de parca algibeira.

 

Popelinas e tafetás são

lordes das prateleiras,

panos de outra condição,

não são trapos para feiras.

 

O mesmo de sedas e rendas,

que aqui nem é bom falar…

Isso é doutras encomendas,

Não serve p'ra trabalhar.

 

Na feira de assentido engano

onde não há pontos sem nós,

enquanto uns tecem o pano

o tecido faz-nos a nós.