sábado, 12 de janeiro de 2019

BILHETE DE IDENTIDADE


O tempo passa e vou com o vento…
de manhã esfrego as mãos como quem reza:
é um modo de permanecer atento
e ajuda a ter, pelo menos, meia certeza.

Quando a tarde cai e o dia escurece
é hora de avaliar o bom e o seu contrário.
São contradições de quem permanece
e vai retirando folhas ao calendário.

Haveria de ter sido um pássaro, ocre,
de olhos bem abertos, como se encantado;
aquele que por ser desenho não sofre,
em vez de sofrer de tanto ter voado.

Querem encontrar-me, saber quem sou?
O silêncio basta, mapa não é preciso:
um pássaro que sem querer voou,
algures entre uma lágrima e um sorriso.