domingo, 26 de outubro de 2014

ANTÓNIO SALVADO


No mais recôndito aceno ou verso,
por ser insondável a sua natureza,
uma alegre e imperceptível tristeza
detonou num poema além disperso.

Outro emerge definido, com certeza,
tal como as ave-marias do terço;
regressa ao céu, ao sono de novo verso,
ateu e rude, interrompendo a reza.

Só então as lágrimas, as mais choradas,
as que, por mais subtis ou disfarçadas
desabam rosto abaixo, quais grafemas,

deixando a descoberto mágoas e penas,
restos não cristalizados doutros poemas
ou mais lágrimas, mais lágrimas abençoadas.