segunda-feira, 27 de agosto de 2012

POESIA, ÀS VEZES

Quantas vezes te disse aqueles versos:
“Senhora partem tão tristes
meus olhos por vós meu bem”…
genuinamente de Camões – e tu acreditavas!
Eram de um tal Ruiz, nosso conterrâneo,
e tudo parecia igual à eterna Leanor descalça
por graça ou às tágides serviçais do canto primeiro…
Do canto jondo te falei e de Lorca
e de tristezas outras como o nosso fado.
O teu encanto era o porquinho amado
de Manuel Bandeira, a sua “primeira namorada”.
Enfim, nem deste conta do erro de geografia
na Lámpara Marina de Neruda, mas não te culpo:
ele dizia o que havia para dizer e isso era o essencial.
Disso tive a certeza quando, já com toda a liberdade,
Eras tu quem dizia Gomes Ferreira ardendo
e Ary queimando e queimando-se a cada verso.
Havia outro ainda, que sendo singular Pessoa
era uma multidão de dores e sentimentos.
Por que haveria eu de saber mais pormenores
sobre a cigarreira do “menino de sua mãe”?
Era breve, eu sei, mas por isso mesmo
o tempo não ajudava mesmo nada
a quem, no meio de tantos poetas,
desvendasse que a poesia era a nossa vida iletrada.