quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

AS ÁRVORES E OS PÁSSAROS


Digo que aprecio as árvores,
nunca me atreveria a cobiçá-las. Lançar raízes
e deixar o corpo florir para depois apodrecer
ostensivamente o coração aos olhos de quem passa.
Não, árvore não, nunca chegaria ao céu.
Antes pássaro: admiro os melros e os pardais.
Parece que sempre estão onde querem estar.
Percorrem os trilhos do céu, nidificam nas gotas de orvalho
e cantam como se o mundo fosse inteiramente seu.
Ah, tenho um casal de águias meu amigo em Santana.
Corrijo: há um casal de águias em Santana
de que gosto muito, embora disso nunca se tenha apercebido.
São os meus olhos, que à boleia planam sobre as suas asas,
secam as lágrimas nas correntes ascendentes de ar quente
e poisam nas árvores que, serviçais,
esperam a morte, teimosamente de pé.

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