quinta-feira, 25 de novembro de 2010

SUJEITO, EU


Durmo na ponta aguçada duma gota,
afio o sonho enquanto a noite fica pronta,
no extremo em que o sono já não conta
e acordo dentro da gota, sem descobrir a ponta.

Sempre que dos dias, a manhã conta,
começas (não rigorosa) pelo meio e eu por jota,
sem apólice – que as não há de cio – tonta
e sobra tempo para que transborde a gota.

De vós, atento, nem sempre venerador,
salvo o instante dum poema de amor;
os noventa e nove graus que antecedem a fervura.

Confesso-me 43 de pé e poeta sem cura,
cidadão quase sempre avisado da mistura,
não sei se venho a tempo, senhor doutor.

4 comentários:

  1. Ficou lindo teu soneto João, parabéns!
    Tens um jeito todo especial de escrever...
    Um grande abraço,
    Rosana

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  2. Imenso, o instante de um poema de amor
    não é, Poeta, apenas um mero tempo -
    mas uma Era, por onde perder-se atento,
    e a essência pura com que se retoca a côr...


    ( então, cidadão, se não houver cura, haverá pelo menos o meu abraço de parabéns ! )Henrique Mendes

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  3. Confesso que gostava de entender poesia em conta ainda que ela fosse uma gota a embebedar-nos de sono na madrugada que aponta.

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  4. Já tens ha muito tempo o diagnóstico!

    E não há cura, talvez apenas remédio(s)...

    Porque o tempo amadureceu tua alma, Poeta.
    No consultório só têm gotas de Vida e palavras para que com elas continues a ser
    da Poesia... Cúmplice

    Um beijinho

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