segunda-feira, 8 de junho de 2020

AVISO AOS NAVEGANTES



Ide e desdenhai das fomes e das sedes,
nada espereis que vos seja dado;
nem peixe fresco nem melhores redes
e todo o caminho do mar será salgado.

Navegai a eito e não aceiteis beijos,
que vos devoram da boca os lábios;
ninfas, que vos traficarão os desejos,
escravas de deuses ímpios e de sábios.

Não deveis sorrir: é pecado como sabeis
e recebei com a espada ao rei e ao vagabundo:
se os houver, todos são impuros e cruéis
é Portugal que vos espera, não o mundo.

Ide pois. E rogai a Deus e às almas puras
para que desta aventura vos haja aval
e tal sorte vos traga mercês e não agruras
a estas, que deixais sedentas, areias de Portugal.

E dada por obedecida tamanha andança
dareis ao reino terras e cobiças, divina glória,
que para vós será o mundo e a lembrança
em todos os compêndios da nossa História.

(E desde então, degredados, hóspedes do mundo;
Portugal, o porta-bandeira, em pano de fundo.)