segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

OS RETRATOS


A memória tem um lugar próprio para os retratos:
os de família, os de viagens e os nossos, em criança.
A verdade é que os retoca, troca de lugar
e, mesmo os a preto e branco, dá-lhes brilho e cor.

Tenho assim um álbum de recordações,
nem todas reveladas. Muitas, em película,
têm as cores trocadas e sou eu agora que as invento,
ao desafio com a memória, dando cor ao meu passado.

Mas o passado foi muito mais do que retratos,
foram anos de memória ausente, e tão velozes passaram,
que hoje se parecem com as desbotadas cartolinas
à la minute, em pose e vestes que já não reconheço.

Deixemos então os retratos nos lugares onde estão,
mesmo sabendo que são únicos e que nunca poderemos
pedir cópias daqueles em que ficamos bem,
só para repetir as qualidades que duvidamos ter.