sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

NADA DE NADA


Não vou dizer-te nada que não saibas

ou que não queiras.

Não tenho atrevimento para te inquietar

e construir contigo uma realidade que não vês.

Não vou dizer-te absolutamente nada,

por ser escusado e não faltar quem te minta.


 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

À CHUVA


Às vezes chove e eu vejo essa água molhar-te,

impiedosa. Na cidade é assim: a chuva molha

cruelmente as pessoas, desfigura-as

até se confundirem com a desumana chuva.

 

Aqui, na horta que frutifica na minha memória,

é uma bênção. Podia chover o ano inteiro,

que seria sempre bem-vinda a água. E mais não digo,

enquanto não estiver completamente enxuto.  


 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

CACOFONIAS


Ela lá e ele, do lado de cá,

disse olá.

Fez eco lá; ouviu ela acolá.

É boa, olá lá.

 

O constant’ hino

tocado sem destino

troca o tino

do cretino, a’rmar ao fino:

 

(“lavamos catandirrindo

levados, levados, sim…”)

 

Dirão na morte a perda,

oh morte inesperada!

De mim ninguém m’herda

Nada!


 

sábado, 27 de novembro de 2021

ハイカイ



Fogo-fátuo

é fumo consumido

- a labareda morta.

 

Um clarão, nada

mais que um lampejo

extinguindo-se.

 

Chama efémera

chama-me e

arde-me, ateia-me.

 

Cinzento é tudo

o que arde dentro

por dentro.

 

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

O CICLO DO NATAL


Que há de novo nesta quadra

de requentado néon intermitente?

Um vaivém de gente

e é costume ser mais nada.

 

Neste exórdio, que afinal deu igreja,

o negócio permanece intacto:

todos iguais mas, de facto,

há sempre carvão e carqueja.

 

Uns, castanha assada; outros, só o fumo;

fitas, laços, vitrinas de desejo.

- A avó manda-te um beijo.

Porta-aviões do consumo.


 

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

POEMA ECOLÓGICO DE NATAL


Um dia destes enfeito-me de azevinho,

bagas vermelhas em cima e aos pés caruma.

Vestido assim, (a ver se adivinho):

humana árvore de Natal ou coisa nenhuma.

 

De azeviche não, (ai a língua portuguesa!)

à maneira sóbria das damas antigas,

fazendo sinal da cruz quando se sentavam à mesa

e no decote exibiam  um atado de figas.

 

Visto-me assim de vermelhos frutos,

que da natureza sou  e de vermelhos gosto

e sem vaidade digo: são gostos mútuos;

de hipocrisias basta, é nisso que eu aposto.


 

domingo, 7 de novembro de 2021

CONTA GOTAS


Uma gota que seja

e nela a água toda,

que molhe e não se veja

vai pingando, incomoda.

 

Pingue, pingue, a gota

vai alagando o chão

uma a uma não se nota

e mata e mata ou não.

 

Não mata a gota, cai,

alaga, se não mata mói

vai e vem, vem e vai

pingue, pingue, dói.

 

Já é mar faz de conta,

malvada seja, a gota,

então não é afronta

que mal se vê, mal se nota?


 

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A LUZ E A TREVA



O candeeiro da cidade

(o mais poupado da rua)

resolveu gastar a lua

em vez de electricidade.

 

havendo necessidade

e sempre que vê a lua

logo lhe chama sua,

mordomo da claridade.

 

Mas um dia, por maldade,

uma nuvem cobriu a lua,

enegrecendo a rua,

o candeeiro e a cidade.

 

Não sei se isto é verdade;

quem mo contou foi a lua.

 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

EFÊMEROS



Era um rio,

um rio, que era todos os rios, de águas vivas

enfileiradas ao longo do caminho.

Às vezes um barco fazendo pela vida.

Nas margens, os salgueiros

inclinavam-se; faziam vénia e aproveitavam

para refrescar na água corrente os ramos mais afoitos.

O rio ia passando

tinha mais caminho, mais água à sua espera.

Algum tempo depois, nesse ou noutro dia,

o rio teria o fim anunciado, um mar imenso

onde não haveria mais falas sobre o rio

e aquela imensidão de água não contaria

senão para morrer dentro de si com o rio na barriga.

 

domingo, 17 de outubro de 2021

CANTAR DE AMIGO


O que me mentem as tuas mãos, quando acenas?

Sei lá se te despedes com ganas ou me dizes adeus,

com ares de exuberância imitada ou apenas

fátua negaça,  se me insinuas vem ou vai com deus.

 

Tenho dúvidas, tenho por traquejo muita dificuldade

em saber  se realmente me honras e me tens em alta

ou se apenas é comum em ti dar azo à vulgaridade

de adeusar quem fica e adejar a quem já não te faz falta.

 

Cobro o mesmo: sou amigo de quem sempre fui;

não precisas de fingir, nem te exijo esse empenho

e não tenho pretensões ao que do nada nasce ou flui,

mas apenas do que de amizade  por ti ainda tenho.


 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

FOLHAS DE OUTONO


Era a tarde do dia. Envelhecida

e gasta pelo Sol. De preguiça e sono.

Veio voando, caindo a folha amarelecida,

entre mim e o Outono.

 

Aos meus pés, a natureza morta

acenava, com serenidade, a despedida:

- Hoje bateu-me à porta

uma experimentada prova de vida.

 

Trazia o pó do caminho

(viver cria sempre esta poeira)

e aquietou-se ali, arrastando-se devagarinho,

despojada do verde-vida, uma vida inteira.


 

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

A MOSCA NA SOPA


De vez em quando

cai-nos uma mosca na sopa,

que nós vamos levando:

- Se retirar a mosca ninguém topa.

 

Nova colherada de sabor inalterado,

não reclamamos à copa

para não aborrecer o empregado

e comemos a sopa.

 

Ma virá o dia em que a sopa sem mosca

está insonsa e está fria

e então vem a revolta tosca:

- Assim nem com mosca comia!

 


 

sábado, 2 de outubro de 2021

VOU COM AS ÁGUAS



Vou na água dos rios,

nas voltas que os rios dão;

vou nas águas,

de aluvião.

 

Por vezes as águas sossegam

chapinham mansas na margem

vou com elas

sem destino e sem portagem.

 

Vou com as águas de Março;

com as de agora,

de Outono, e todas as águas que correm:

toda a água corre, toda a água chora.

 

Na levada é que me entendo,

sem barco nem jangada,

vou correndo, vou correndo,

sem pressa de chegada.

 

 

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

QUANDO EU MORRER



Quando eu morrer

saberei tudo o que ficou para trás

e de nada farei queixas.

Batam palmas, sorriam e finjam que são eternos.

Eu já não terei essa prorrogativa.

Quando eu morrer

esqueçam o bastante para que a minha morte

não vos seja perturbadora, porque se o for

será a vossa consciência; a minha estará tranquila.

Comam, bebam e dancem: a vida estará do vosso lado

e se isso vos der prazer, a mim não fará diferença.

Pelo que tenho ouvido, ninguém me irá dar conta

se é alegria ou tristeza o que vos vai na alma.

Quando eu morrer

não pensem muito no assunto:

“mal de quem vai e mal de quem cá fica”

- isto não vai ajudar em nada…

Mantenham a esperança de que tudo vai melhorar.

Mas lutem por isso, é essencial!

Quando eu morrer

não acharão qualquer diferença no que vos é dado para viver:

os ursos polares continuarão a ter focas para a sua dieta

e o vosso talher permanecerá no lugar habitual;

a lua dará as mesmas voltas, apesar do cansaço evidente,

e ser-vos-á permitido fotografar a lua cheia como sempre.

Quando eu morrer

será tudo igual ao que hoje achamos diferente de um dia para o outro.

 

 

 

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

DIVINOS ENLEIOS


Ah, que sorte: hoje há deuses lá em cima

sedentos de versos, dormentes de sono!

Vou fazer-lhes pontaria com rima

e acertar-lhes em cheio no buraco do ozono.

 

Podia ser em lugar alabastrino, como a testa,

mas é pecado, além da enviesada geografia:

não os quero mortos nem o fim da festa,

quero apenas treinar a pontaria.

 

Qualquer deus é grande, maior que tudo,

de forma que vivem longe em lugar além…

A seu modo poliglotas, estilo surdo-mudo,

e assim ditam o pecado, o mal e o bem.

 

A seus ministros é pesado o fardo alombado:

abençoam, excomungam, conforme as escrituras,

alteram as combinas, corrigem o pecado

e determinam a morte e as vidas futuras.

 

Eu vou falar com um deus um dia destes

e dizer-lhe cara-a-cara, muito abertamente:

“mas que mundo é este que concebestes

onde só vós viveis sem leis eternamente?”


 

domingo, 19 de setembro de 2021

CÁ DENTRO DE CASA


Cá dentro de casa

nada me faz mal,

calor em brasa

ou brisa outonal.

 

Se houver vendaval,

chuva persistente,

ficam no quintal:

cá dentro só gente.

 

Amigos, quero dizer,

de boa companhia…

Calha às vezes não ser

mas fica pra outro dia.

 

Cá dentro de casa

é como vos digo:

um dia, um golpe d’asa,

outro dia a sós comigo.


 

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

ASSIM DE SIMPLES


Sombras mais adiante e o tempo a amolecer

à nossa frente. Brando, o Sol morre

e todo o mundo desaba ao entardecer,

esse mundo que não pára e corre, corre…

 

Seguem-no os olhos que avistam o horizonte,

edificando um mundo novo mais além;

no limite, o olhar vai construindo uma ponte;

um caminho do que foi para o que lá vem.

 


 

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

FLOR


A flor leva apenas um laço,

eu mesmo faço;

é para oferecer. Ou pô-la na sala

para o que der e vier.

Ponha na conta, vou levá-la.

Ficarei com ela, se a merecer.

 

Solitários, não tem?

Só, a condizer, ficava lá bem

junto à janela

para que o sol lhe dê.

É isso, talvez fique com ela

e será dádiva para quem a vê.


 

domingo, 5 de setembro de 2021

POEMA DO MAR


Confia em mim – disse o mar –

eu protejo-te, avança…

(ele, que não é flor de se cheirar

nem amigo de confiança)

 

Contudo, tem charme e mistério,

ousa matar sem piedade:

tanto pode zangar-se a sério

como depois ser bondade.

 

É assim que o mar ensaia

ondas e marés em vaivém,

pelo menos visto da praia

é tudo o que o mar tem.


 

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

SEXTO ASCENDENTE



Descendente,

a lua faz de bola,

e no mesmo gesto

a lua enrola, enrola

e faz um cesto,

ascendente.

 

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

ANEXIM CRUZADO


Olha lá, ligeiro irmão,

que pressa a tua, onde vais?

Trocas a fome pelo refrão:

o primeiro milho é dos pardais.

 

E o segundo e o terceiro,

se à vez forem todos hoje

quebra-se o anexim embusteiro:

devagar se vai ao longe.

 

Que o capricho ou fatalidade,

a ventura não te deserde,

porque também manda a verdade:

quem tudo quer tudo perde.


 

sábado, 21 de agosto de 2021

SOL E DO


Quando o sol arrefece,

a modos que entristece

em arrepiante glacê.

Apenas ri quando aquece

ou porque lhe apetece

sem saber bem porquê.

 

Um ror de tempo enroupado,

sei lá em que vergonhas,

não sei se dorme, se sonha,

se o céu o traz ocupado

ou fica envergonhado

por ter chegado atrasado

à partida das cegonhas.

 

Este sol habituado

ao palco diurno do fado,

que nem por um dia se acoite,

se bem que triste ou magoado,

e mesmo se estiver cansado

nunca saiba o que é a noite. 


 

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

PÁSSARO OCRE


Não era afinal de ouro

nem possuía riqueza,

e fosse embora tesouro

era-o por singela beleza.

 

Amarelo-torrado, canário,

tudo lhe ficava a matar;

profissional do canto, operário

de antes morrer que cantar.

 

Morreu ocre e mudo,

escravo do tudo ou nada,

sem liberdade e, contudo,

numa gaiola dourada.

 


 

domingo, 15 de agosto de 2021

O GALHETEIRO DE CAMPAINHA


A tentação do aparador ainda hoje persiste:

a campainha do galheteiro era irresistível

e como ouvir aquele trim-trim de bicicleta

sem que a minha avó desse por isso?

A missão era ingrata, impossível,

Excepto aos meus ímpetos de menino…

De um lado do guarda-loiça havia copos e chávenas,

que só de tempos em tempos tinham serventia,

mas do outro estava o galheteiro e a sedutora campainha

exposta à imaginação de como tocá-la e ouvi-la

sem que os demais dessem conta.

Este princípio de vida permaneceu até hoje:

como fazer o impossível, como?

E o impossível ali, a dois passos, guardado no aparador.


 

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

QUERIDAS CEGONHAS


Há cegonhas que já não se dão ao trabalho

das migrações

aqui têm casa, que vão ajeitando galho a galho

durante gerações.

 

Por cá têm vida estável e habitação social,

salvo eventual revés,

aqui vivem e morrem de morte natural

e são elas que trazem os bebés.

 

Faz parte da paisagem permanente,

este príncipe das nuvens, voador:

plana, compete com o céu diariamente,

é a gaivota do interior.


 

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

PRECLARA DÚVIDA


Um prolapso do sol

um pedaço de sal

uma côdea de pão mole

um percalço ocidental

 

de escabeche um carapau

para uma fome futura

no fundo não é bom nem mau

mas dura dura dura

 

um passo de caracol

menos mal menos mal

um peixe no anzol

quanto é que isto vale?


 

sábado, 7 de agosto de 2021

CONSELHO VITRUVIANO



Vitrúvio queixa-se de novo:

- Que sina esta! De mim ninguém tem pena.

uma vida em quarentena,

oh redimensionado povo!

 

E a lamúria continua:

- Tirem medidas. Façam dieta,

todo aquele que arquitecta

uma vida ideal e saudavelmente nua.

 

Mil jejuns é a receita,

comer e beber também mata

e ponham-se no meu lugar, em espargata,

é uma quarentena perfeita, 




 

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

NADA


Nada não existe por nada ser,

que sendo nada, algo tem,

alguma coisa tem de acontecer

para ser nada, de onde vem?

 

Nada é o que não tem nome

e morre antes de nascer;

é o mesmo que morrer de fome

sem ter vontade de comer.

 

Ou seja, é conversa fiada,

quando nada há para contar

e então alguma coisa é nada,

para tanto dar que falar.

 

O tempo que leva isto tudo

sem encontrar substância

é porque o nada absoluto,

mais que tudo é abundância.


 

domingo, 1 de agosto de 2021

O OFÍCIO DE POETA


O ofício de poeta tem que se lhe diga…

Matéria-prima em ruptura permanente

e, pior ainda, o que mais intriga

é que todo o verso se crê urgente.

 

O tecido é frágil, fino, quase puído,

junta palavras bailarinas numa dança

e que por fim se transforma em vestido,

todo enredado em si, como uma trança.

 

Não tem prova, se for a gosto, assentar bem,

e a sobranceira figura logo ali se retrate

com o aprumo mais exacto que ela tem,

o poeta não passa de um erudito alfaiate.


 

quinta-feira, 29 de julho de 2021

VIVER COM ASAS


As nuvens são o sonho de voar;

deixamos que nos seduzam

e caminhamos como se tivéssemos asas.

 

Não temos asas; dizem-nos que não temos,

mas o nosso voo é igual ao dos pássaros,

conforme a imaginação.

 

O casario é extenso

e nunca o mundo que sonhámos.

É admirável o mundo como o sentimos, não como o vemos.


 

segunda-feira, 26 de julho de 2021

ÚLTIMA HORA


Informação, a que for certeira

digo, conforme a acta, que enforma

e é esse pormenor subtil que torna

a notícia verdadeira.

 

A notícia é o rufo do tambor

explico melhor: uma verdade contrafeita

escrita por gente eleita

seja lá ela o que for.

 

Serve-se fria, a jeito

e quem julgar que enforma é erro de ortografia,

fica na concha e se fia,

mude de jornal, com efeito.

 

Que tenha um bom dia e bom proveito.


 

sábado, 24 de julho de 2021

ÁGUA CORRENTE


Água nascente

na concha da minha mão,

fresca e pura como o amor que a segura por instantes.

A pouca distância, já o rio

desenha sulcos na lama das margens;

corre loucamente para a foz.

Perco-o de vista.

Toda a minha sede é memória deste rio.


 

quinta-feira, 22 de julho de 2021

NO FIM DO MUNDO



Depois da treva

e dos estilhaços da Lua sobre o oceano,

podem esperar o Sol, as nuvens e o vento:

precisarei somente de alcançar a minha janela

para voltar ao centro do universo

e aí respirar como a terra acabada de lavrar.

 

terça-feira, 20 de julho de 2021

CANDEEIRO



Amiúde, a falta de energia

e de dinheiro

coincidiam no pavio

do candeeiro

 

a petróleo, em lugar certo,

aclarando a vida:

uma chama ali por perto

ia consumindo a torcida.

 

A petróleo, ali por perto,

a chama duma torcida

em lugar certo

ia consumindo a vida.

 

quinta-feira, 15 de julho de 2021

AS FLORES


As flores, o cheiro das flores

e a perfeição que exibem sem vaidade.

As flores são o contrário do mundo, digo

a pulcritude da terra áspera que as impele

para a luz do sol e dos meus olhos.

As flores são o contrário do que morre,

do que fere e do que sangra

(pode ser suor apenas, mas sangra sem o sabermos)

dentro de nós, que as cheiramos e admiramos

pétala por pétala a sua beleza natural.

São tudo isso as flores e são também faróis de esperança

que trazemos no olhar até que a morte nos junta.


 

segunda-feira, 12 de julho de 2021

OVÍDIO MARTINS


                                                                     CARICATURA DE H. BETTENCURT SANTOS (HUMBERTONA) 1973


Ovídio Martins vive em silêncio

dentro de cada verso seu.

Mora aí na ponta de praia desde o ventre

de sua mãe, soterrado por mil ou dez mil poemas

mestiços, tanto faz.

Quem lhe tirou o som do mar, até o de Pasárgada,

não sabia que um poeta ouve com o coração,

o imbecil carrasco.

Sentado na esplanada da pracinha

escrevia versos em guardanapos de papel

e Santiago amanhecia num poema

debruçado sobre as grades que separam o Atlântico

mar, prisão e liberdade, do mundo silencioso à sua volta.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

NÃO RESPIRA A PALESTINA


Não respira a Palestina, não respira;

a bota sionista esmaga-lhe a garganta.

Não precisaria dizer mais, fosse o que fosse,

porque a morte não vem atrás pedir desculpa;

porque a vida não vem depois abrir os braços.

Não respira a Palestina, não respira,

porque o seu peito já não inspira o ar da vida:

apenas expele o grito da revolta!