Como bem sabemos a Lua não dorme:
passa as noites em branco, faz meia
com a madrugada e, se por instantes some,
é por algum anjo descalço que ali passeia
e se interpõe, cuidando que é transparente.
Os anjos andam descalços como bem sabemos:
têm asas com penas e muitas penas desasadas.
Tudo somado são eles, nem mais nem menos,
que trazem a Lua por nuvens mal paradas
dia e noite, com sobressalto para toda a gente.
As nuvens amedrontam do nosso olhar para elas,
que não são, como sabemos, aterradores castelos.
Abrem as cortinas, mas não são senão janelas,
ou melhor, são do céu à terra, viajantes paralelos,
que tanto levam sumiço como entornam de repente.