Ide
e desdenhai das fomes e das sedes,
nada
espereis que vos seja dado;
nem
peixe fresco nem melhores redes
e
todo o caminho do mar será salgado.
Navegai
a eito e não aceiteis beijos,
que
vos devoram da boca os lábios;
ninfas,
que vos traficarão os desejos,
escravas
de deuses ímpios e de sábios.
Não
deveis sorrir: é pecado como sabeis
e
recebei com a espada ao rei e ao vagabundo:
se
os houver, todos são impuros e cruéis
é
Portugal que vos espera, não o mundo.
Ide
pois. E rogai a Deus e às almas puras
para
que desta aventura vos haja aval
e
tal sorte vos traga mercês e não agruras
a
estas, que deixais sedentas, areias de Portugal.
E
dada por obedecida tamanha andança
dareis
ao reino terras e cobiças, divina glória,
que
para vós será o mundo e a lembrança
em
todos os compêndios da nossa História.
(E
desde então, degredados, hóspedes do mundo;
Portugal,
o porta-bandeira, em pano de fundo.)