quarta-feira, 30 de março de 2011

MALVA


Às malvas, é dito vulgar,
como coisa sem valor.
Não é justo assim falar
de tão generosa flor.

Serena flor, benigna rama,
- nunca o diria se não fosse -
e não se livra da fama:
o seu chá faz bem à tosse.

Outrossim para a malícia,
mas aqui com outro fito,
dizem ser uma delícia,
aguar de malvas o dito.

segunda-feira, 28 de março de 2011

CAMPAINHAS


Tocam campainhas p’rá folia
ao sol que oferece este maná:
é a prima vera por um dia,
se amanhã é prima, se verá.

Obras-primas, com certeza,
as orquestrais sinfonias
das pautas da natureza
na primavera dos dias.

Cheira a terra, o prado aquece,
bamboleiam rosadas esquilas
(agora, o que não é, parece:
confesso que posso ouvi-las…)

sexta-feira, 25 de março de 2011

SOAGEM/CHUPA-MEL


Livre como as aves, a chupa-mel
sinuosa com as cismas da aragem,
tem neste silvestre carrossel
o sol e o melífluo odor da soagem.

Irmã do vento, sem abrigo e nobre,
que ser humilde tem que se lhe diga:
não se é inferior por se ser pobre
ou suportar de pé o vaivém da vida.

quarta-feira, 23 de março de 2011

"ENVERGONHADAS"?


-E as meninas, qual é vossa graça?
E por que me viram as costas?
Não gostam de ver quem passa
ou hoje estão maldispostas?

Que lindas são, mesmo assim,
de rosto voltado para o chão.
Será por causa de mim
ou problema de educação ?

Ponderem, não custa nada.
O Sol está radioso e quente,
embora, mande a verdade,
não nasceu para toda a gente.

segunda-feira, 21 de março de 2011

FLOR DE PÊSSEGO


Os pêssegos virão
da débil flor rosada:
lá mais p’ro verão,
não tarda nada…

E que doces são
-que doce eu fico –
pêssego de verão
de olhos em bico.

Carnudo quanto monta,
dava para o almoço,
não fora a afronta
de tão grande caroço.

sexta-feira, 18 de março de 2011

AS PAPOILAS


A noiva não mostra um arrumado bouquet
de espampanantes papoilas, mas de rosas.
Ainda que estas sejam só para quem vê
e a brava flor a chama íntima das fogosas.

Mas se mentir quiser a noiva prazenteira,
pode, sobre o ventre inchado, qual balão,
decorar-se de casto ramo de oliveira,
mas papoilas é que não, papoilas é que não!

Quando muito, estrelícias, verde rama ou goivos,
gerbérias, buganvílias, espigas férteis, loiras,
que dão realce às flores e dão aos noivos,
mas nunca a cor e a lascívia das papoilas.

Sou seu devoto, além do trigo nas searas,
quando rompem vermelhas ao sabor do vento,
cravos da mesma cor e outras menos raras,
mas isso é com outro fim; de outro casamento…

quarta-feira, 16 de março de 2011

O DERRAME DAS GLICÍNIAS



O derrame das glicínias faz-se agora.
Choram ou estão apenas debruçadas?
Fingem? Chegou a sua hora?
Ou riem de nós a bandeiras despregadas?

segunda-feira, 14 de março de 2011

LILÁS


Que flor é esta, assim-assim,
com o nome da coloração?
Os lilases deste jardim,
cores ou flores, o que são?

Neste enigma aparente
entre o ser e o que assemelha,
as dúvidas ficam p’ra gente
e todo o mel para a abelha…

sexta-feira, 11 de março de 2011

ESTRELAS DO MEIO DIA


Ainda por desabrochar,
as estrelas do meio dia:
fazem contas de ficar,
'inda a manhã está fria.

Depois explodem de cor,
em tentação desmedida,
as estrelas rasas em flor,
ao meio dia da vida.

quarta-feira, 9 de março de 2011

INTIMIDADE


Hoje vou dizer algumas coisas que nunca te disse:
um lençol de linho, bordado pela minha avó,
com rosas iguais na orla das almofadas;
o cheiro a alfazema dum baú qualquer da minha infância;
um beijo no escuro e outro descarado;
os sonhos povoados de enigmas que nunca soube explicar;
o meu estulto defeito de não ter defeitos;
o par de mãos que tocam, por fora, toda a minha vida;
todos os caminhos.
Que mais intimidade posso dar-te?

segunda-feira, 7 de março de 2011

FLOR DAS FLORES


Há em ti choro de plátanos e de rosas,
doendo em cada lágrima vertida:
olhos de amêndoa lisa, cristais de vida,
raiando nas madrugadas mais frondosas.

Só de perto se distingue o amarelo das mimosas,
pequenos sóis em cachos, pendendo a vida
das minhas mãos suspensas, negando a despedida.
Só de perto se distingue o amarelo das mimosas.

Que pode um cravo apenas branco,
da imensa e tão breve primavera, quando
mil flores colorirem o chão a aguarela?

Enquanto não cativar e for cativo,
jardineiro de jardim onde não sirvo,
regarei, lágrima a lágrima, a flor mais bela.

sexta-feira, 4 de março de 2011

AZEDAS


Paupérrimas flores!
Não lhes bastava ser rasteiras,
ainda confinadas às veredas.
Paupérrimas flores!
Adorno dos campos e ribeiras,
de seu nome ervas azedas.

quarta-feira, 2 de março de 2011

LÍRIOS




Copiosas as pétalas do lírio,
transitórias, quase não me dão tempo para as ver.
O lilás e o branco são os favoritos.
Asas de minúsculos anjos, pairando no meu jardim,
só por milagre são flores
ou então sou eu que os vejo assim