sábado, 27 de novembro de 2021

ハイカイ



Fogo-fátuo

é fumo consumido

- a labareda morta.

 

Um clarão, nada

mais que um lampejo

extinguindo-se.

 

Chama efémera

chama-me e

arde-me, ateia-me.

 

Cinzento é tudo

o que arde dentro

por dentro.

 

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

O CICLO DO NATAL


Que há de novo nesta quadra

de requentado néon intermitente?

Um vaivém de gente

e é costume ser mais nada.

 

Neste exórdio, que afinal deu igreja,

o negócio permanece intacto:

todos iguais mas, de facto,

há sempre carvão e carqueja.

 

Uns, castanha assada; outros, só o fumo;

fitas, laços, vitrinas de desejo.

- A avó manda-te um beijo.

Porta-aviões do consumo.


 

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

POEMA ECOLÓGICO DE NATAL


Um dia destes enfeito-me de azevinho,

bagas vermelhas em cima e aos pés caruma.

Vestido assim, (a ver se adivinho):

humana árvore de Natal ou coisa nenhuma.

 

De azeviche não, (ai a língua portuguesa!)

à maneira sóbria das damas antigas,

fazendo sinal da cruz quando se sentavam à mesa

e no decote exibiam  um atado de figas.

 

Visto-me assim de vermelhos frutos,

que da natureza sou  e de vermelhos gosto

e sem vaidade digo: são gostos mútuos;

de hipocrisias basta, é nisso que eu aposto.


 

domingo, 7 de novembro de 2021

CONTA GOTAS


Uma gota que seja

e nela a água toda,

que molhe e não se veja

vai pingando, incomoda.

 

Pingue, pingue, a gota

vai alagando o chão

uma a uma não se nota

e mata e mata ou não.

 

Não mata a gota, cai,

alaga, se não mata mói

vai e vem, vem e vai

pingue, pingue, dói.

 

Já é mar faz de conta,

malvada seja, a gota,

então não é afronta

que mal se vê, mal se nota?