Fogo-fátuo
é fumo consumido
- a labareda morta.
Um clarão, nada
mais que um lampejo
extinguindo-se.
Chama efémera
chama-me e
arde-me, ateia-me.
Cinzento é tudo
o que arde dentro
por dentro.
Fogo-fátuo
é fumo consumido
- a labareda morta.
Um clarão, nada
mais que um lampejo
extinguindo-se.
Chama efémera
chama-me e
arde-me, ateia-me.
Cinzento é tudo
o que arde dentro
por dentro.
Que há de novo nesta quadra
de requentado néon intermitente?
Um vaivém de gente
e é costume ser mais nada.
Neste exórdio, que afinal deu igreja,
o negócio permanece intacto:
todos iguais mas, de facto,
há sempre carvão e carqueja.
Uns, castanha assada; outros, só o fumo;
fitas, laços, vitrinas de desejo.
- A avó manda-te um beijo.
Porta-aviões do consumo.
Um dia destes enfeito-me de azevinho,
bagas vermelhas em cima e aos pés caruma.
Vestido assim, (a ver se adivinho):
humana árvore de Natal ou coisa nenhuma.
De azeviche não, (ai a língua portuguesa!)
à maneira sóbria das damas antigas,
fazendo sinal da cruz quando se sentavam à mesa
e no decote exibiam um atado de figas.
Visto-me assim de vermelhos frutos,
que da natureza sou e de vermelhos gosto
e sem vaidade digo: são gostos mútuos;
de hipocrisias basta, é nisso que eu aposto.
Uma gota que seja
e nela a água toda,
que molhe e não se veja
vai pingando, incomoda.
Pingue, pingue, a gota
vai alagando o chão
uma a uma não se nota
e mata e mata ou não.
Não mata a gota, cai,
alaga, se não mata mói
vai e vem, vem e vai
pingue, pingue, dói.
Já é mar faz de conta,
malvada seja, a gota,
então não é afronta
que mal se vê, mal se nota?