na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas
Ruy Belo, Poema Oh as casas as casas as casas, excerto
Passei os últimos cinco anos de trabalho nos serviços técnicos municipais dum pequeno concelho do Alentejo: Viana do Alentejo.
Primeiro em áreas ligadas à cartografia e, em seguida, na gestão de águas. Quer numa quer noutra secção, o convívio com o desenho, os projectos de arquitectura, a fiscalização e o licenciamento era diário. De toda aquela linguagem técnica que surgia nas conversas entre colegas, havia um nome composto por duas palavras que volta e meia se soltava e me inquietava sem o demonstrar. Também nunca quis perguntar o significado por não ser das minhas atribuições mas, confesso, também porque sentia receio, infundado, é certo, pela revelação do seu conteúdo. Refiro-me às TELAS FINAIS, que hoje sei que constituem o conjunto de desenhos finais de um dado projecto, incluído alterações e correcções introduzidas no decorrer da obra. Mas não o sabia na altura. A imagem que então me ocorria sempre que ouvia aquela exigência técnica era algo parecido com mortalha, coisa definitiva e sem regresso. Enfim, algo angustiante.
Agora, mais do que razões ou suspeitas; mais do que dúvidas ou superstições, é também o título desta estória e ainda a procissão vai no adro.
Dada a explicação sobre o título, resta apresentar-vos as “telas finais”. As obras estão prontas e habitadas…
(continua)