Em 1988, quando publiquei Alegria Incompleta, ed. Vega
– merecedor, pela APE, do Fundo de Apoio à Edição de Autores Portugueses,
apoiado pela Gulbenkian e em cuja recensão, na Colóquio Letras, Fernanda
Botelho me haveria de me apelidar de “poeta do coisismo” – ter-me-ei esquecido,
ou por ventura preterido (não me lembro) o poema “Da Sorte”.
Andou o dito pelas gavetas, em vinha d’alho mais de
30 anos, inédito, e que agora encontrei e vos mostro. Acresce que a pontuação é
de hoje, porque na altura não a fazia.
Por que o mostro passado tanto tempo? Apenas porque
lhe achei graça. Só isso.
***
Há
dias caí ao mar ou caí em mim no mar,
que
eu não sou de me atirar assim
sem
mais nem menos, e vi a coisa tremida.
O
mar não me largava. Fiquei emaranhado
na
sua enorme cabeleira e é o sais!
Foi
então que me agarrei à barbatana
de
um peixe que a sabia toda e me quis comer…
Não
teve essa sorte, porque eu não fui na cantiga
e
resolvi acender o candeeiro eléctrico
da
mesinha de cabeceira antes dele o engolir.
Costumo
sempre usar este truque quando
as
coisas se complicam e fico à rasca.