Deram-me há pouco uns seixos matizados, na verdade
com pequenos veios onde outros seixos viveram,
para que fizesse um poema, todo em pedra,
sem qualquer aresta capaz de magoar as mãos do tempo.
Impossível, disse. Recusei amavelmente o desafio:
a poesia não faz milagres, apenas junta as pedras polidas
ou rugosas e atira-as à indiferença, aos lugares
muralhados,
se magoarem, se as mãos do tempo sangrarem, tanto melhor.
Ofereçam-me flores vermelhas; cravos ou papoilas, tanto
faz,
e não precisam pedir que as ame, porque é o que farei;
é o que sempre fiz, porque dão cheiro e cor à poesia,
enquanto eu resistir com uma pedra à mão, de pedra e cal.