sexta-feira, 11 de abril de 2014

ÁGUA, UMA AUTÓPSIA


Analisada a composição, em suma:
duas moléculas de hidrogénio
para apenas uma de oxigénio,
é água, sem dúvida nenhuma.

Pelo ar dolente dá para ver,
sofreu maus tratos e escravidões,
espargida por mil religiões,
contabilizada em deve e haver.

Desperdiçada, mal compreendida,
acolheu aqueles, que ao naufragar
lhe rogaram pragas de arrepiar.
Foi tudo na vida, tudo em vida.

Acarinhada no desvio ou conduto,
teve amores também entre o povo
hoje aqui, depois ali, sempre em recovo,
mas nunca por si, antes pelo fruto.

Tem cor esverdeada, sabe e fede
e alimentou o mundo mesmo assim,
morta-viva correndo para o fim,
a autópsia é clara: morreu de sede.