(Excerto
de Mar de Pão)
No
tempo em que a taberna do Faustino se enchia de homens ao fim da tarde, cada
qual com o seu naco de merendeira e o toucinho, a linguiça ou as azeitonas,
regados por três ou quatro copos de vinho da casa que, para serem bem aviados,
haviam sempre que ficar a deitar para fora, nesse tempo, a deita era para mais
tarde. Em grandes algazarras, punha-se a conversa em dia, bradando com
interjeições apropriadas aos que iam entrando ou saindo. Em hora de despedida e
porque o vinho também é grande ajuda destas andanças, lá se fazia um despique
de cantigas, em que o cante tomava inevitavelmente o primeiro lugar.
Joaquim
das Vacas foi interessado animador destes convívios. Não tomava a iniciativa na
cantoria, mas acompanhava com gosto e até mesmo com paixão, sobretudo quando
eram as suas preferidas do Grupo Os Trabalhadores de S. Bartolomeu do Outeiro
ou d’Os Ceifeiros de Cuba. A sua especialidade era, isso sim, a conversa
animada entre dois copos.
Campo
das Letras, 2003