domingo, 8 de janeiro de 2012

AO JEITO DO ALENTEJO


Devia haver dois portugais
como num jogo de espelhos,
com perdão dos animais,
de um tiro se matam dois coelhos.


Pouca terra e tanta gente
a quem corre mal a vida
e diz que não tem saída
desta crise permanente,
que do futuro faz presente
e se queixa com tantos ais,
sendo pior quanto mais,
que a solução é só uma
antes que coisa nenhuma,
devia haver dois portugais.


O que faz falta fenece
num abrir e fechar d’olhos,
só a morraça é aos molhos
de tanto mal que acontece.
Já nem rifas nem quermesse,
nada tem volta ou trambelhos,
sejam novos, sejam velhos:
se encolhe é a desgraça
se duplica acham-lhe graça
como num jogo de espelhos.


Safam-se os do costume
(do fruto podre vive o bicho)
e não se importa ser lixo,
digo lixo, não estrume,
que depois ninguém assume
a não ser p’ra fazer mais
como pombos e pardais,
esgravatam até ao osso
e levam tudo o que é nosso,
com perdão dos animais.


Duplicar é a solução
como duas gemas d’ovo
ou então cambia-se o povo
por outro que esteja à mão,
que aceite a imigração:
trocam-se os novos p’los velhos
impostos por bons conselhos
e a sorte logo duplica
se mal está pior não fica
de um tiro se matam dois coelhos…